Quando eu era garoto, no inicio dos anos 30, havia uma imagem made in USA, que estava muito em voga: Era ela a do “Inimigo Público”. Habitualmente, um gangster de Chicago. …Mas havia outros, doutras cidades, e de diversas categorias, claro. Que me lembre, naquela altura, o mais importante de todos, e que teve mais elevada expressão foi Al Capone. E a esse chamava-se o Inimigo Público nº Um.
Mais tarde, ao tempo da 2ª Guerra Mundial, os supostos Inimigos Públicos passaram, perante uma das facções em choque, a ter um outro nome: “Ditadores”. …E foram assim alcunhados o Mussolini, o Stalin, o Hitler, e talvez outros, lá para a China e Japão, mas de momento não me lembro, nem vem ao caso.
Depois, na Guerra Fria, além do Estalin, que teimou em perdurar, e do Tito da Jugoslavia, a grande figura foi o Fidel de Castro, que ainda está vivo talvez porque a sua origem, de galego sefahrdi, não permita que lhe toquem. Mas também nos aparecem o Mao Tse Tung, o Ho Xi Mihm, o Pol Pot, etc. etc.
Todos eles odiados! Porém todos eles já na História.
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Actualmente a moda é acusar os “Ditadores” de “Inimigos Públicos” (e alguns até o serão ) e depois raptá-los e executá-los ( Chauzesco, Sadahm Hussein, …Do Noriega nada sabemos, …e com o Gadhafi -Kadafi- parece ser mais complicado).
Cremos que agora estão na berlinda o Hugo Chaves e o Maomé Ahmadinejade, …se os apanharem.
Afinal, a ilação que se tira é a de que “os Ditadores são Inimigos Públicos …e é urgentemente necessário exterminá-los”.
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…Mas aqui cai-se num tremendo “Contra-senso”! …É que a História, a nossa e as outras, a História Universal, é toda feita de “Ditadores”.
E em suma: “Para a História, se não somos Ditadores, …Não prestamos !” …Não merecemos registo histórico.
Alexandre da Macedónia, Julio César, Afonso Henriques, Pombal, etc, …etc. …etc., todos foram “Ditadores”. …Parece que as pessoas comuns, como eu, como nós, ou mesmo muito melhores que nós, não têm qualquer hipótese de um lugar na História.
É verdade que ainda há mais umas poucas variantes que também conseguiram “historiar-se”: “Os Santos”, “os Sábios”, “os Artistas” e “os Heróis”.
Mas esses são afinal, à sua maneira, ditadores também:
”Os Santos” porque nos “ditaram” regras de conduta e de religião que, passados tantos séculos, nós continuamos a acatar e a respeitar com os maiores rigor e devoção.
“Os Sábios”, abstractos os filósofos, ou concretos os médicos, por exemplo, e outros cientistas, que nos obrigaram aos moldes da civilização, e a quem, infalivelmente, vamos continuando a obedecer.
“Os Artistas”, que nos impuseram os seus sons, suas fórmas, cores e estilos, espalhadas por toda a estética que nos rodeia, e que, feliz e obrigatoriamente acabámos por ter que aceitar.
…E ainda há “os Heróis”. …Mas esses, se têm sorte, transformam- se em Ditadores. …Se não têm, geralmente morrem cedo …e também deles já não reza a História.
…E afinal no que ficamos? …Os Ditadores são bons ou maus?…
Evidentemente que toda a regra tem excepção.
José Sá–Carneiro Cascais, 04. 12. 2009
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