quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

CUIDADO! …NÃO AFOGUEM A MARINA.

                  Cascais,  02. 09. 2006                              J. Sá Carneiro ( * )

...Não sendo, de modo algum, um expert na matéria, mas porque sempre vivi voltado para as coisas do mar, e tive oportunidade para conhecer, do Reino Unido à Turquia e da Suécia à África do Sul, umas por mar, outras por terra, muitas e as mais variadas marinas, pediram-me alguns amigos uma opinião sobre a Marina de Cascais 2009, ( Remodelação da existente ), cujos projectos e maquetes estão patentes na Câmara Municipal.

...Lá fui, vi tudo com atenção, e eis o breve parecer a que consigo chegar:               ...Um completo e total Contra-Senso!                  Passo a expor alguns pontos de vista:                                                      

1 –  Sempre fui completamente contrário à ideia de serem os        barcos de cruzeiro usados e explorados, como “cenário gratuito”, para que a “especulação imobiliária” construa ao seu redor toneladas de betão, em lojas e apartamentos que, alcançando preços astronómicos, acabam afinal por resultar em incomodidade e mau-estar para os proprietários desses barcos. ...Ora quem suporta a pesada despesa, uns com certo à vontade, outros até com sacrifício, que manter um yacht representa, tem todo o direito de não ser incomodado. ...E o excessivo desenvolvimento da “entourage commercial” das marinas acaba sempre por as deteriorar, degenerando numa série de desagradáveis, e mesmo perigosos, inconvenientes (que chegam até às “beatas” atiradas sobre os barcos), impensáveis em explorações de bom nível.

...Porque há “Marinas” ...e ”marinas”!                                         

...Quem acaba de fazer uma fatigante travessia, em tempo de férias, ou quem procura, em qualquer altura do ano, recuperar-se no seu barco, atracado a um pontão, das agruras de um periodo de trabalho, ...claro que quer é calma e relax,   ...e não ruído e agitação pela noite fóra, como por exemplo acontece em Puerto Banus, onde, normalmente, só se consegue dormir depois do sol nascer.

2 – Penso de resto que esta nossa Vila de Cascais, embora simples e discreta, será já talvez a mais classificada estância de turismo de mar do País, detendo certamente gabarito cultural para merecer uma marina civilizada, ...e não um “luna–park” aquático.

Não queremos uma “marina folclórica” como Vila–Moura, nem“frenética” como Banus!

3 – Outro aspecto em que é necessário pensar é o do “acesso” à futura marina, ...com “tudo o que querem meter lá dentro”.

...Mesmo tal como está já não é muito fácil lá chegar. Ainda há dias estive uns bons cinco minutos parado atrás de um autocarro de turistas que embaraçava o trânsito. Repare-se que só dispomos de um Sentido, e ainda por cima  em Via-única, na passagem pela ponte.   ...É pouco! ...E não sei por onde poderão passar mais acessos.  ...Subterrâneos?  ...Aéreos?   ...Não creio.

4 – Mais: O arejamento da marina é feito pelas brisas norte e noroeste. Se erguerem, desses lados, construções mais altas do que as que já existem, ficará esse arejamento comprometido, e a marina, durante o verão, irá transformar-se num verdadeiro inferno, sobretudo para quem está nos barcos, que é afinal o legitimo usuário do local. Lembrem-se de Vila-Moura depois que foi construido o novo bloco do lado Noroeste. ...Quem conhecia a marina nunca mais aceitou um finger naquela zona!

5 – Por outro lado, há imóveis na área circundante que julgo deverem ser preservados a qualquer custo. Como, por exemplo, a “Casa de S.ta Marta”, mesmo ao lado do farol.                           Aceito que será difícil  “equilibrá-los” com o que venha a ser “necessário“ construir ... ou demolir. ...Mas aquela costa é linda com a edificação “romântica” lá existente.

De resto as novas construções e as remodelações que estão a ser feitas no local têm respeitado isso mesmo. ...E a casa de S.ta Marta ( Agora estão a chamar-lhe de S.ta Maria ), que julgo ter sido projectada pelo célebre ( embora controverso ) arquitecto Raul Lino, é com certeza um dos seus raros exemplos à-borda-d´água e, possivelmente, o mais “romântico” de todos.

...Senão repare-se que os turistas. (E normalmente os de melhor porte) estão constantemente a fotografar e a filmar precisamente aquela casa. Essa sim, é de recuperar! Para modernices chega-nos o Algarve!   ...Por favor deixem-nos ter também as nossas “S. Sebastian” ou “Nice”! ...Os mais velhos também têm direitos!

6 – Agora aquilo que parece ser a “jóia da coroa” desta Marina 2009:   A Torre de Cristal.

...É linda a Torre! ...Mas ali?!   (...Esta é com certeza brincadeira! Todos sabemos que este mar não é o Golfo Pérsico. E a Torre poderia não durar nem o tempo da sua construção.   Já vi um navio cargueiro atirado por uma vaga sobre as rochas, ao lado do Farol de S.ta Marta. ...E o Restaurante “Marégrafo”, no 1º andar do Clube Naval, destruído por outra.)

...Parece-me que nem vale a pena comentar a Torre! ...Mas então falemos de paisagem:

...A costa do Dubayy é árida e insípida, sem pontos conspícuos de beleza, e era necessária qualquer coisa para a animar:      Por isso a Torre-Hotel no mar e a maravilhosa Urbanização em terra, construída por trás dela.

...Ora esta nossa costa não precisa de ser enfeitada. ...Nada mais bonito do que a imponente falésia que, da Boca do Inferno ao Cabo da Roca, a conforma!

De resto, claro que o vidro é óptimo material de construção. Dura infinitamente ...se não o estilhaçarem. Mas o vidro é para a Escandinávia ou para o Canadá, ...que não têm Sol. Em Portugal, sobretudo sabendo-se agora que o clima vai aquecer nos próximos decénios, só servirá para o hotel gastar o dobro da energia ...em ar-condicionado.

Perdoe-se-me a observação, mas, se a Torre chegar a ir para a frente (ou para cima), o melhor é demolirem também o Farol de S.ta Marta e colocarem o seu projector no topo da dita  torre.

...Ficaria com muito mais alcance e seria a maneira do foco não incomodar, por baixo, os hóspedes do hotel nas suas suites de vidro.   …E nós teriamos assim uma  Alexandria-a-Nova, ...em vez de um Dubayy-o-Novo.                                                                   

7 – Outro reparo, que peço licença para fazer: Venho a interessar-me pela Marina de Cascais desde os anos 60, ao tempo do que julgo ter sido o 1º Projecto, do Eng. Vasco Pessoa.     ...Mais tarde, há uns 18 anos, foi o Clube Naval que tentou relançar a ideia... Acabou por nada se fazer!    ...Mas o mais estranho é que, de todas essas vezes, sempre ter ouvido falar da extrema dificuldade de “espaço”. Que teria que ser, à holandesa, conquistado ao mar!      ...E foi o que acabou  por  acontecer, ...crendo-se ter sido isso o que encareceu a marina.                                                                    

...Como é que se consegue agora “espaço” para aquilo tudo?

Compreendo que o negócio da marina tenha que ser rentável e que talvez, tal como está, ainda o seja pouco. ...Mas, se forem um tanto melhoradas as estruturas existentes, e a exploração conduzida com mais sentido de marketing, não ficará o problema resolvido?

8 – Indispensável a consulta, em votação directa, dos utentes da Marina : Dos próprios donos dos barcos. ...Ninguém mais interessado, nem com mais direitos.

Mas, se quiserem ainda outro parecer, competente e pragmático, porque não pedir, também por votação, a opinião dos sócios do Clube Naval, afinal ali mesmo ao lado?

Seria a melhor ajuda. ...Pois tal “parecer” resultaria com certeza absolutamente correcto.

Para terminar, ...o nosso apelo:   Deixem a Marina em Paz!   

 

( * ) José António de Sá Carneiro

Despachante-oficial da alfândega de Luanda de 1952 a 1975.

Despachante-oficial da alfândega de Lisboa desde 1980.

Diplomado em Marketing - Management pelo SAMA  de  JHB.

Licenciado em História pela Universidade Aberta de Lisboa

Patrão de Alto-Mar desde 1984 - Lisboa

Sem comentários:

Enviar um comentário