segunda-feira, 25 de abril de 2011

A OPÇÃO IBÉRICA - II

( Ibéria ou Hispânia ?  -  Ensaio Iberista   -  2001 )

…Mas porquê agora esta ideia de uma adesão nossa ao resto da Hispânia ?

Porque Portugal sozinho é inviável!  …Porque Portugal, sem colónias e isolado é economicamente impossível.

Mas então como é que nos aguentámos até aqui?                                  …Com as reservas em divisas, provenientes das Colónias, sobretudo de Angola, que o Estado Novo tinha conseguido acumular, mesmo através das situações de guerras coloniais dos ultimos tempos, “reservas” que terão durado até ao fim dos anos 80.     Daí para a frente vivemos das “ajudas” da Europa e das “pensões” dos emigrantes.  …Mas já não há colónias, as pensões dos emigrantes são cada vez menos,  …e o feed-beck da União Europeia está próximo do fim!                                                  Espera-se que, com um novo Governo as coisas melhorem, …e até pode ser que apareçam, “de outro lado”, novos auxílios estrangeiros.  …Mas nada será eficaz, nem definitivo, e a verdade é que este país nunca chegou para nos sustentar.

Reportando-nos às origens, começaram os “primeiros portugueses” a sair do Condado para arrebatar terras aos moiros, pela Beira e pelo Alentejo abaixo, até ao Algarve, pois que “se essas terras podiam tão bem alimentar os moiros, iriam igualmente sustentar-nos a nós”.  …Mas foi engano.  Os moiros eram capazes de fazer agricultura até no próprio deserto.  ….Nós não!  …Para nós não deu!  …E assim, mal entrámos no século XV, logo corremos a conquistar Ceuta, para chegar ao trigo do reino de Fez e depois ao Oiro da Mina.                   …E éramos só um milhão naquele tempo!  …Desde aí, e até à Revolução de Abril, nunca mais deixámos de viver à custa das colónias.  Todo o resto é pura fantasia.  E os nossos “economistas”, pelo menos os sérios e conscientes,  sabem disso muito bem.  Sabem também que Portugal e a Espanha são economicamente complementares, …e que só por uma aberração da História passámos a viver divorciados. 

É verdade que, pelo Correr dos Tempos, sempre conveio a outras Potências separarem-nos do resto da Espanha, …para nos enfraquecerem,  …a uns e a outros.  …E foi exactamente por terem conseguido separar-nos que, nós e os outros ibéricos, acabámos por perder tudo.  …Ainda há 27 an0s atrás, quando nos expulsaram das ultimas colónias, (E nunca se diga que foram os africanos), se estivéssemos  ligados aos outros Estados Ibéricos, não teríamos tido força para lá permanecer?

Claro que as colónias chegariam um dia à sua independência, desenlace inevitável de qualquer sistema colonial.                               …Mas porque é que os portugueses tiveram que sair de lá?    Se lá tivéssemos permanecido nada se teria desorganizado, ou sido espoliado.   Poderiam ter sido mantidos “laços preferenciais de comércio” com Portugal, continuando a ajudá-lo, e poderia ter-se evitado a ruína de centenas de milhar de portugueses, assim como o monstruoso sacrificio de milhões de africanos…

Por outro lado esta separação do resto da Espanha sempre foi conveniente para uns tantos dos nossos “politicos”, que assim sempre conseguiram guindar-se  a posições que naturalmente não alcançariam de outro modo.                                

Aponta-se também como dificuldade para uma União Ibérica, sermos nós uma República e o resto da Espanha uma Monarquia. …Mas então sou forçado a lembrar-me que o meu Pai dizia sempre que a república foi proclamada contra a vontade de 80% dos portugueses.  A verdade é que temos Oito (8) séculos e meio de  Monarquia e só Um século de República.  Com a Monarquia expandimo-nos.  …Com a República encolhemos.                             Do Império onde o Sol (quase)  nunca se punha, voltámos aos 84.000 quilómetros quadrados da nossa isignificância original.

Mas porque foi que o 25 de Abril ofereceu a este Povo a escolha da sua forma de Governo e não lhe deu também a escolher a sua fórma de Estado?

J. Sá-Carneiro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A OPÇÃO IBÉRICA - I -

 

( IBÉRIA   …OU HISPÂNIA ?        -        Memória - 2001 )

Quando um português desavisado se mete a fazer comparações, em directo, entre Portugal e a Espanha, acaba fatalmente por cair nas mais incorrectas ilações, ...chegando mesmo a atingir aspectos de completo ridículo.

Nós não somos piores ou melhores que os outros povos peninsulares. ...Simplesmente estamos sozinhos! ...Enquanto que os outros tiveram a sensatez (E o mérito) de se unir!

...Portugal deve sim ser comparado com as outras Nações Ibéricas, de dimensão e importância mais ou menos próximas das suas, (Castela, Catalunha, Andaluzia, etc) ...e nunca com a União!

...É notório que se alguém, em qualquer momento, se atreve a dizer que “Portugal é, geografica e demograficamente, uma Nação (Ou um Estado) da Espanha”, …ou que o Português é uma das principais línguas dessa mesma Espanha (Ou da Hispânia)”, logo ali é excomungado! ...E com certeza contestado, mais ou menos neste tom: “Não Senhor! Isto aqui não é Espanha, nem Hispânia, nenhuma! ...Isto aqui é Ibéria!”

...Bom, Ibéria, Hispânia e Espanha são todas a mesma coisa. Ibéria veio do grego, Hispânia é o nome latino, e muito mais moderno. ...Espanha será a alteração para o romanço. ...Mas talvez seja até melhor escolhermos Hispânia (Ou Espanha), porque a Ibéria era mais para a região leste da península, chamada agora Catalunha, embora mais tarde se passasse a chamar Ibéria à Península toda. E o nome provém de Ibero (Rio Ebro), que corre lá daquele lado.

Outra coisa que costuma dizer-se é que Portugal nasceu da Lusitânia.   ...Mas parece que pouco temos a ver com esse povo .    ( Ou povos - Eram onze tribos independentes entre si.)   ...A capital da Lusitânia era Mérida. ...E os lusitanos tinham sido também um povo germânico (Ou indo-europeu ) invasor, como os celtas, mas ainda mais antigo.  …E só chegaram aos Montes-Herminios a fugir do general romano Galba.

Também nunca houve confirmação de serem os Hermínios  a  nossa Serra da Estrela, onde jamais foram encontradas ruínas de castros, e os poucos vestígios existentes parece serem de construções "Tapori".

...A verdade é que Portugal nasceu da Galiza,   …e mais de mil anos depois da pacificação dos Lusitanos, dos quais já ninguém guardava memória.        A Galiza  era  ao tempo a mais evoluída e culta das nações da Espanha  (Depois da Andaluzia, claro, porque essa, sendo de cultura árabe, estava alguns séculos mais avançada). ...O Condado (Portucalense) era o pedaço sul da Galiza, nas margens e foz do rio Douro. ...E Portugal, desde que reconhecido pelo Papado, em 1179, esteja certa ou errada essa opção, nunca deixou de ser independente.

( ...Independência que se manteve até mesmo sob os reinados dos Philipes.  Pois que o II de España se chamou I de Portugal, e assim até ao fim da Dinastia ).

...Mas essa Independência, que todos nós queremos conservar, nada tem a ver com a  “Confederação Ibérica”!   ...Que não nos traria qualquer perda de Nacionalidade ou de Patriotismo, pois que continuaríamos a ser a Nação Portuguesa ...e "Patriotas dos Quatro Costados", ...só que com certeza mais fortes e menos pobres.

...Infelizmente essa União Ibérica continua a não estar sequer à vista!

...Entretanto, se Portugal fizesse parte dos "Estados da Espanha" (ou Hispânia), ...seria o Maior e o Mais Populoso.  Também o que teria os Maiores e Melhores Portos de Mar (Para além de serem naturais) - Com Sines como Porto de Baldeação da Europa –.  Os Melhores Percursos dos Rios (Que poderiam tornar-se realmente Navegáveis), as Melhores Praias (Que passariam a ter verdadeiro “aproveitamento Turístico”, para além da sua "beleza natural"). …O mais fácil Acesso Marítimo ao Resto do Mundo ! ...etc.  etc.  etc.

...Portugal poderia até tornar-se no Mais Importante dos Estados da Espanha!

...Assim, como estamos, ...somos   ...A Outra Andorra da Espanha!   ( Mas mais pobres! )

...Pelo seu lado a Espanha, com Portugal, seria o maior País da União Europeia, com importância semelhante à da França, Reino Unido ou Itália, e população muito aproximada à desses Países.

...Quase todos os Estados Europeus depressa descobriram que só as Uniões lhes dariam Força e Prestigio internacionais:  É a velha divisa  "A União faz a Força".

Assim a primeira terá sido a França, quando os Francos se juntaram aos Gauleses e Povos do Midi. ...Na Grã Bretanha uniram-se os Normandos aos Anglos, Saxões, Bretões e Scots.   ...A Itália, enfraquecida e toda retalhada,  …pelo impulso dos "unificadores", Garibaldi, Cavour, Manzoni, Verdi, transformou-se no portento que hoje é. ...E a Alemanha que, sob o pulso de Bismarck, resultou da ligação da Prússia aos Estados do Oeste e do Sul, e se tornou no País que agora conhecemos!?

...Os próprios Estados Unidos da América do Norte são o que o seu nome diz: UNIDOS.      (...Para o conseguirem sofreram a terrível Guerra da Secessão, ...mas Valeu a Pena! E são hoje em dia a Super-Potência do Mundo porque tiveram a inteligência e a coragem de se UNIR.)

...Porque é que fomos capazes de manter Unidos todos os Estados do Brasil e aqui, pelos séculos fóra, vamos insistindo neste divórcio de "nuestros ermanos", que tanto nos sacrifica?

...Enquanto que eles, ali ao lado, veja-se o Prestigio de que  agora desfrutam!

E, se nos uníssemos, para não ferir susceptibilidades , até poderíamos chamar ao todo Confederação Ibérica. …Ou simplesmente  IBÉRIA.    …E Portugal cá continuava!

Por vezes objecta-se que a Espanha é uma Monarquia, …e Portugal uma República.

…Mas, segundo o Professor A. M. Hespanha, na sua História do Portugal Moderno - Politica e Institucional, citando António de Sousa Macedo, diz-nos que as Monarquias podem, naturalmente, conter repúblicas, nelas integradas como uma parte pública das nações. …De resto estamos convencidos de que o Português, por  índole  e discernimento, continua a ser monárquico.                          …Pois que vincadamente o era a quando da implantação da república. …E só por um despropositado erro essa implantação aconteceu.   …No Porto espalhou-se que a revolução tinha ganho em Lisboa, …e em Lisboa parece terem conseguido o contrário.    No resto do País proclamou-se a república   …pelo telégrafo.  

…A convicção dos republicanos era tão pouca, que o Chefe da Revolução, Almirante Reis, suicidou-se na madrugada de 5 de Outubro,  convencido de que a República estava derrotada..

Portugal em oito séculos de Monarquia CRESCEU, quase até ao infinito.

Com um único século de República DIMINUIU, até quase desaparecer.

De resto, não é a Espanha uma Democracia ?

E não é Democracia um sinónimo de República ?

Porque é que o 25 de Abril concedeu aos portugueses a escolha da sua forma de Governo, …e não lhes facultou também a escolha da sua forma de Estado ?                                                                                   

Bastaria uma pequeníssima alteração à Constituição:  Em vez de “Eleição para Presidente da República”,  passaria a dizer-se “Eleição para Chefe do Estado”.  …E assim, além dos candidatos republicanos,  poderiam  também concorrer candidatos monárquicos;   Bragança,  Bourbon,  ou outros.                                 

E estaria reposta a  moralidade. 

Entretanto continuamos com o maior receio de que a “maioria nacional” goste disto é tal como está:   Pequeninos, pobrezinhos, atrasadinhos,  mas     …orgulhosamente SOS.

 

Nov. 2001

J. Sá-Carneiro (*)

 

(*) José António de Sá Carneiro

Despachante da Alfândega de Luanda de 1952 a 1975

Despachante  Ofic. da Alf. de Lisboa desde 1980

Diplomado em Marketing Management pelo SAMA de Joanesburgo

Licenciado em História pela Universidade Aberta de Lisboa

Nasceu em Lisboa em 1927

terça-feira, 15 de junho de 2010

ADEUS EUROPA. …BEM-VINDA IBÉRIA !

 

É  COM A  MAIOR  CONSTERNAÇÃO  QUE   NOS  SENTIMOS  OBRIGADOS   A  RECONHECER  QUE,  APÓS  DOIS MIL ANOS DE HISTÓRIA,  MAIS UMA VEZ,  A  TÃO  ALMEJADA  CONSTRUÇÃO  DA  EUROPA…              

…JÁ VOLTOU,  PROVAVELMENTE,   A  FALHAR !

          …RESTA-NOS  O  REGRESSO  À  “IBÉRIA” !

Desde já, encarecidamente, vos pedimos que não nos tornem a falar em “soluções miraculosas” para um Portugal isolado, sem  um mínimo de recursos naturais, com uma população que não consegue de modo algum sair do seu “circulo de fatalidade”, o qual não lhe consente  instruir-se porque é demasiado  pobre.         …E  que, por outro lado,  continua a ser cada vez mais pobre porque não tem  instrução.    

… A verdade é que, mesmo com gente  de melhor qualidade, e com  mais imaginação para  tirar  algum proveito das miseráveis condições que nos rodeiam, Portugal, sem  colónias, e isolado  do resto da Espanha,  nunca poderá ser viável.                                 

Por favor:   Não brinquem mais connosco !

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Vão uns dez anos, iniciámos uma série de pequenos artigos, sem “valia politica” de maior,  nem qualidade literária, em que  se tentava demonstrar que Portugal, uma vez que, após a revolução de 1383 e  a batalha de Aljubarrota,  havia cortado laços com Castela e todo o resto da Espanha,  …só tinha conseguido sobreviver, atravessando os mares,  e instalando-se em posições “do outro  lado”.         …Mas que agora    …já não havia    …“o outro lado”.

Esses artigos destinavam-se a ser publicados no jornal “O Dia”,   onde  escreviamos  às vezes,  e que  entretanto foi extinto,  pelo que nunca vieram à  luz.   Porém, os raros  amigos que os leram, por pouco não nos matavam.   …E fomos forçados a concluir que, no fundo,  gostavam era disto tal como estava:     Um Portugal      Pequenino, bonitinho,  pobrezinho, mas  “separadinho”.                 

Depois começámos a acreditar que a União Europeia  iria resolver todos os nossos problemas,     …e não se pensou mais nos tais artigos.

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…Longe de nós alvitrar “quem terá feito falhar a Europa”!…

Mas, passado este intervalo de dez anos, em  que a maioria das pessoas  já se apercebeu da realidade que nos cerca  e,  perante o falhanço, já quase definitivo, de todos os nossos geniais “Planos Europeus”,  parece que só nos resta  em consciência,   procurar  esses textos dispersos, talvez perdidos e,  agora com a facilidade da Internet,  passar mesmo e decididamente,   a  publicá-los.

O  Primeiro desses artigos escrevêmo-lo a 19 de Março de 2001, e é, com ligeiras alterações, este  que se anexa.                                       

Chamou-se “Ibéria  …ou  Hispânia?  –  Um  Ensaio  Iberista”.   

Passa agora a chamar-se:  “A Opção Ibérica”.                                  

Facultámos cópias dele  (Bem como, mais tarde,  dos outros 5 ou 6 que o  seguiram)  a dois amigos, que os terão estudado e adaptado nessa altura.     Foi já publicado,  há uns meses,  neste mesmo Blogue.

Para servir de inicio à pequena série, tornamos agora a emiti-lo, com ligeiras alterações,  sob o título de  “A  Opção  Ibérica  -  I  -“ 

Claro que tais artigos, este e os outros, não valem grande coisa,    …mas é o nosso contributo.        …E talvez ajudem!                

Afinal por algum lado teremos que SAIR! 

J. Sá-Carneiro