segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

CRIOULISMO - DISSERTAÇÃO

                                                                                                   J. Sá-Carneiro

                                                                                                  (Memória  2007)

CAPITULO II

O ACTUAL CRIOULISMO JÁ NÃO DEFINE RAÇAS, MAS SIM CULTURAS

Os descobrimentos, e a expansão portuguesa que depois se lhes seguiu, tinham que nos levar ao encontro dos mais variados povos, bem como das suas respectivas culturas.

E, como é natural, até porque ao tempo eram demoradas as permanências nesses lugares tão distantes, levaram-nos também à fusão de muitas dessas culturas com a nossa, de europeus e portugueses.

De inicio, este fenómeno, que se verificou com extremo vigor no Oriente, e muito debilmente, por exemplo, no Brasil, pois que os índios americanos se mostravam arredios, teve talvez o seu maior desenvolvimento na costa ocidental da África, infelizmente em redor do que chamamos o "tráfico" esclavagista.

O vocábulo "crioulo" parece ter como étimo a palavra castelhana "criadillo", que julgamos que era usada nas Antilhas, pois que ao tempo, na costa de Àfrica, o dialecto que se usava era o "pidgin", que dizem ser muito parecido com o crioulo de Cabo Verde.

E voltando a citar: "É importante trazer para aqui uma das primeiras zonas da crioulização,  pouco mais de meio século decorrido desde o inicio da expansão portuguesa

-1415- nas costas africanas onde, com o tráfico, se iniciava esse processo de crioulização, transposto depois para outros continentes, mas com a mesma base escravista" (7).

"A relação do 'mundo crioulo' com o português foi assinalada em congresso realizado sobre as linguas crioulas no University College, pelo Prof Wallace Thompson, que formulou a ousada hipótese de uma origem única para todos os falares crioulos, que se encontraria no "pidgin" ou "proto-crioulo português". (7)

Permita-se-nos agora dar um salto no tempo, e passar a uma época já nos alvores literários de Angola..

Não falando de algumas publicações oficiais, da Imprensa Nacional, que apareceram nos primeiros anos do séc XIX, assim como umas tantas gazetas periodicas, que apareciam e desapareciam, o primeiro livro, impresso e publicado em Angola terá sido da autoria de José da Silva Maia Ferreira, era de poesias e intitulava-se "Espontaneidades da Minha Alma - Às Senhoras Africanas"

O autor era, pelo nascimento e educação, um crioulo de Angola, mas filho de pais portugueses.

Daí em diante foi profusa a produção literária angolana, sobretudo sabendo-se a exiguidade da sua população letrada, nos primeiros tempos.

O maior escritor angolano do Crioulismo foi, sem qualquer duvida, Mário António Fernandes de Oliveira (1934-1988), de quem acabámos de fazer algumas citações..

Nascido em Maquela do Zombo, aí fez os seus estudos secundários. Licenciou-se pelo Instituto de Cências Sociais e Politica Ultramarina, e doutorou-se, em 1985, na Universidade Nova de Lisboa, aí tendo sido professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

Poderiamos referir centenas de escritores angolanos, e suas obras, mas este texto não passa de simples "esboço" de uma dissertação, pelo que vamos abreviá-lo.

Queremos assim mencionar dois livros, de literatura leve, que lemos nos ultimos tempos:

Quanto ao primeiro, a que atribuimos especial mérito, "Um Certo Gosto a Tamarindo", preferimos entrevistar, on line, o seu autor, que temos muita honra em ter por amigo, juntando a "entrevista" a este trabalho.

O segundo desses livros, um romance de José Eduardo Agualusa, chama-se "Nação Crioula", e não nos convenceu. Temos muitas dúvidas sobre o correr do seu texto, onde se fazem referências a Fradique Mendes,   mas o que mais nos chocou nessa obra foi o seu próprio titulo.

Chama "nação crioula" a Angola. ....Isso não há! Se é Nação não é Crioula, e se é Crioula não pode ser Nação. Uma coisa é a antítese da outra.

( E agora aproveitamos o ensejo para lançar a nossa "Ligeira Recensão" ):

...Angola é sim, um "Estado" com muitas "Nações".

..."Nação" significa um Território, normalmente não muito extenso, com uma só Raça, uma só Etnia e uma só Cultura, as mais das vezes com uma única Religião, ou uma Religião principal. "Crioulidade" ...é exactamente o inverso:

"Crioulidade" é a "umbrela" que a todos acoberta! ...E "Crioulismo o seu culto.

...De resto, parece-nos até perigoso, que num País com tantos grupos raciais e étnicos, que ainda há pouco saiu duma dramática guerra civil de quase trinta anos, se venham invocar ideias como "nação", "nacionalismo", etc.     ...Não parece de bom gosto!

 

Gostariamos de abordar também a vertente das "letras crioulas brasileiras", mas este texto já vai demasiado extenso, para os fins que tem que cumprir. De resto nem para isso estamos preparados.

Mas pensamos sempre que como expressão crioula não deve deixar de referir-se o "poeta naive" Catulo da Paixão Cearense.   ...Que, sendo "Naive",  ...é um "clássico"!

Também, sem dúvida, Gilberto Freire, sobretudo o seu "Luso-Tropicalismo".

E, cláro, Jorge Amado, de quem julgamos ter lido quase tudo o que nos apareceu em Angola.

Veríssimo, sendo um crioulo, de costela indiana, não é propriamente crioulo a escrever.

Joracy Camargo (Teatro) muito menos. ...É da época "europeia" do Brasil.

Mas já será um escritor crioulo, em moldes modernos, José Mauro de Vasconcelos.

Mas temos que nos lembrar que estamos a fazer um simples “sketch”   ...que já vai ficando comprido demais., pelo que é necessário dá-lo por findo.

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(7) Mário António Ferreira de Oliveira, A Formação da Literatura Angolana, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa 1997

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