sábado, 23 de janeiro de 2010

CRIOULIDADE E CRIOULISMO

INTRODUÇÃO  A  UMA   DISSERTAÇÃO                       

                                                                                             (Memória - 2007)

Em redor de todo o Globo Terrestre, ocupando uma faixa de 46 graus, entre Cancer e Capricórneo, nos belissimos e riquíssimos territórios por onde os Europeus espalharam, durante quase cinco séculos, as suas colonizações, vamos hoje em dia encontrar, em vários estágios de desenvolvimento e estabilização, gigantescas comunidades crioulas.                                

É crioula praticamente toda a América Latina, exceptuando-se, talvez,   a Argentina e o Chile. 

E até nos U.S.A. se diz que New Orleans é a Capital do Creole State:     Luisiana.

São tambem crioulas, do outro lado do mundo, a Indonésia, as Filipinas, bem como o sul da India, da Malásia ...e um sem número de Ilhas por todo o Indico e Pacifico.

...Não é crioulo o Norte de Àfrica porque, na verdade, nunca se chamou crioula à combinação de Árabes, Negros e Berberes ( E os europeus ali não são muitos).

A esses foi dado o nome de Povos Arabisados, ...que será afinal a correspondência aos nossos Povos Crioulos.

Perfeitamente definido como País Crioulo, até mesmo com dialecto próprio, é o ex- português Cabo Verde, bem como a ex-espanhola Ilha de Fernando Pó.

Mas, descendo a costa africana, vamos encontrar a África do Sul com fortíssimas comunidades crioulas, aí  predominando o crioulsmo Afrikaner.     Mas também o temos Malaio e Indiano ,  e ,     ...e até Português.

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E em Angola? ...Em Angola, até meio do Sec. XX, era quase totalmente crioula a parte civilizada da população. Quando chegámos a Luanda, em 1942, não havendo propriamente um dialecto angolano, era muito especial o sotaque doce e cantante com que ali se falava o português.   Era tambem deveras peculiar   a maneira de ser e o comportamento dos angolanos evoluidos, fossem brancos, mestiços ou negros. ( Em  Angola dizíamos “pretos”, para não nos responderem que  "Negro  é  o  carvão"! )                                                                                   No inicio dos anos 50, criado o colonato da Cela e aberta a imigração, começou essa comunidade crioula a diluir-se, engolida no meio de tanta gente que vinha de fóra.

Diz-se agora que era muito difícil ir para Angola, …que era precisa Carta de Chamada.

...Talvez fosse, enquanto não havia condições para receber ninguém.  Éramos muito pobres.   Em Luanda não havia casas de luxo, como cá, e íamos para a escola a pé, à torreira do sol. Não  existiam universidades, nem piscinas.     …Conservávamos os automóveis 10 ou 15 anos, e usávamos pneus recauchutados.

Aliás foi exactamente para a Cela que o Estado Português, pela vez primeira, financiou um movimento de instalação de colonos. Pois que, até aí, éramos nós,  afinal “colonos mais antigos”,  que,  a pedido do governo local, tínhamos que inventar empregos  para os recém-chegados.  E, a seguir,   financiar, pelo menos , os seus tempos de adaptação.

Mas depois veio a alta do Café, e agitou-se a comercialização dos Diamantes.

...E por fim descobriu-se o Petróleo. ...E, embora os lucros viessem todos para cá, a vida foi melhorando.

...E Angola já podia receber gente. ...E recebeu!

Quando lá chegámos, em 1942, havia 15.000 brancos em Luanda e 50.000 na colónia toda. Quando rebentou o terrorismo, em 1961, já Luanda beirava os 200.000 e Angola estava a caminho do meio milhão. O Censo de 1970, foi travado a meio, não sabemos porquê, mas constava, pelos bastidores que, com os mestiços, já se chegava ao milhão.

...Já havia ardinas, cauteleiros, e engraxadores brancos pelas ruas da baixa.

Nos anos 60 veio a tropa. E, num grande número de casos, uma vez desmobilizados, os soldados ( E mesmo os oficiais) ficavam lá. Poucos queriam voltar a Portugal. Ou vinham a Portugal casar e tornavam para Angola. ...quando não casavam lá ...e rapidamente aparecia a prole.

...Por essa altura foi o Crioulo por completo submergido.

...Já não se ouvia o "sotaque".      ...O Crioulo, preto, branco ou mulato,   ...tinha desapareccido!

     Cascais,  Março de 2007                J. Sá-Carneiro

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