sábado, 17 de abril de 2010

OS ANOS LOUCOS DE LUANDA - II

“OS  DRAGÕES”                                            ( CONTINUAÇÃO )       

…E a Coluna estacou para uma rápida reunião:  Comandantes, sargentos e cabos, cinco ou seis condutores civis.   …E,  logo em seguida, e da forma mais abrupta, o comandante desata aos berros,   manda  pôr  toda  a gente,  camionistas incluídos,  em respeitoso sentido, ao longo da berma da picada, e começa a  pregar-lhes uma das mais furiosas  descomposturas  que  eu  até  ali tinha ouvido.   ( Claro que nunca  percebi  porquê).                   Ao mesmo tempo,  e a passos largos,  ia percorrendo a fileira, duma ponta até à outra, sempre zurzindo a poeira do chão, a chicotadas do cavalo marinho, de que nunca se separava.

A seguir subiu para o Unimog e,  também em rigoroso sentido,  berrou  a  pergunta:    “Quem é o alferes mais charmoso do Exército Português ?                              E os os soldados responderam em coro:      “É o  menino  João Moreira”.                                                                         E eu, que tinha ficado sentado no banco do Unimog, devia  com certeza estar a olhar para tudo aquilo, com o ar mais  espantado do mundo.                                                          Por fim gritou a ordem:   “Siga a coluna !”

Meia hora depois, num lugar a que chamavam a Baixa da Bananeira, estávamos todos enterrados.                             …E, logo a seguir, a noite caiu.

Ainda houve uma ou duas tentativas de rebocar camions com os Unimogs, mas era preciso abrir passagens ao lado da picada, e a noite estava breu.       Assim resolveram deixar para de manhã.

Foram estabelecidos postos de sentinela,  em  três  ou quatro pontos, …mas eu, que estava a dormir dentro dum camion,  acordei a meio da noite e fui, por curiosidade, dar uma volta ao acampamento:                                               Não havia vivalma acordada!                                                 E como,  durante toda a noite,  nada de nada aconteceu, veio reforçar-se a minha convicção de que,  na verdade,  a guerra de Angola já tinha acabado.                                       …Ou, pelo menos, que alguém a tinha mandado “parar”.

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