terça-feira, 30 de março de 2010

A DIFICIL OPÇÃO (Ensaio)

 

V. R.                                                                  Memória  -   Março  2006

                                                        -  I  -

Estávamos nos fins do Século XIV e, extinta a nossa primeira Dinastia, começava a esboçar-se uma nova era, a qual teria forçosamente que ser diferente de tudo o até então experimentado.

Os ultimos moiros já tinham sido, desde há muito, varridos das Praias Algarvias, e as Fronteiras norte e leste estavam quase definitivamente demarcadas. ...O Território era todo nosso!

O Futuro parecia sorrir ao pequeno Portugal, ainda jovem de pouco mais de 200 anos.

Mas, de modo inesperado e algo dramático, ...começa a constatar-se que esse Território, tão sofrido e almejado, não era afinal suficiente para sustentar o escasso milhão de Portugueses que eramos naqueles tempos. ...Para os Moiros tinha chegado! ...Mas os Moiros não eram muitos, ...e capazes de fazer agricultura até no próprio deserto. ...Porém para nós, com fraco saber agrícola e pobre apetrechamento, não chegava com certeza.

Terras na verdade férteis, só os vales do Mondego e do Tejo, e as planuras de estuário do mesmo Tejo e do Sado. Mas essas eram as justamente necessárias para o Trigo, para o Pão de Cada Dia. ...Outras culturas? ...Já os Vinhedos,  ...os tinha mandado o nosso avisado rei D.Dinis para as encostas do rio Douro, originando uma empresa, épica e sacrificada, que sabemos agora só ser comparável aos arrozais em desníveis da China e  Japão.

...Gado, ...só miúdo. ...Para o grosso os pastos eram fracos, face às chuvas quase sempre irregulares. ...Pescas? Tinham pouca expressão naquela época. ...Como agora, por outros motivos, nos torna a acontecer. ...Riqueza Mineira? ...Os romanos, 1.500 anos atrás, haviam-na praticamente levado ao esgotamento.

...E, face a essas razões, deparámos-nos, pela primeira vez, com o crónico Dilema Nacional:

...Por mais voltas que se dessem, só dois caminhos se ofereciam. ...Duas restrictas Opções:

A)  -   Contemporizar com Castela, aceitando a tendência, que começava a desenhar-se, para um movimento unionista que, um século depois, sob os Reis Católicos, iria culminar na coligação de quase toda a Península ao redor dessa mesma Castela. ...E a que, perdido aquele momento de opção, teriamos fatalmente que aderir, ...até face à séria Teoria, já nesse tempo sentida, de que, geográfica, demográfica e economicamente, eramos nós parte integrante da Espanha ( Ou seja da Hispânia, ...ou Ibéria, ...ou como se queira dizer).

B)  -   Tomar os Rumos dos Mares, ...na procura das Terras do “outro lado”.

E a escolha fez-se ! ...E foi, como é sabido, ...a da Revolução de 1383 e,  dois  anos  depois,   ainda  muito  mais  grave  e decisiva,       ...a  da  BATALHA  DE  ALJUBARROTA.

...A DIFICIL OPÇÃO tinha sido tomada!

Trinta anos decorridos estávamos em Ceuta, em demanda do Trigo do Reino de Fez, que sabíamos abastecer a ainda moira Andaluzia, já quase toda cercada pelos reinos cristãos. ...Porém o trigo tomou outros caminhos, e assim Ceuta se transformou num fiasco, bem como todas as Praças, depois conquistadas, na Costa do Marrocos. ...Mas que seja permitida uma correcção: É que na verdade …nem tudo foi fiasco. Há com certeza que excluir os instrumentos náuticos, árabes e moiros; astrolábios, agulhas de marear, tábuas e al-manaques, aos quais tivemos acesso nas embarcações nesses portos apresadas, e que nos permitiram a navegação ciêntifica do Atlântico, tal como os árabes, dois séculos atrás, tinham tido as suas epopeias do Indico e do Pacifico.

...Mas íamos sempre navegando para sul, e acabámos por chegar à Costa da Mina (Hoje mais ou menos a Nigéria) ...E aí sim! ...Tinhamos chegado às riquezas! ...E de lá começamos a trazer o oiro e o marfim.

...Mas tambem a colaborar, com europeus e africanos, num outro "comércio", corrente e natural naquela altura, ... porém hoje “de muito triste memória”...

...E depois foi a Guiné, ...e Angola! ...Mas, à época, pouco valor se dava a essas terras. Não estávamos propriamente à procura de plagas quase virgens, mas sim de Paises mais ricos e desenvolvidos do que o nosso, capazes de nos fornecer tudo aquilo que não tinhamos.

...Dobrado o Cabo, chegámos às Indias! E então, nesse 2º século de Expansão Ultramarina, ...das Indias fomos vivendo! (...Extrema riqueza para alguns! ...E muita amargura para outros.) ..Até aos dias em que holandeses, e depois ingleses (nossos aliados) nos escorraçaram das melhores posições.

Mas, impedidas as Indias, ...saltámos para o Brasil, ...até aí quase esquecido, ...e nesse Terceiro Século Ultramarino foi, como se sabe, do Brasil que nos valemos.

...Todavia, com a independência brasileira, surge a ameaça de também essa fonte vir a acabar, fatalmente ressequida. ...Entretanto ...e surpreendentemente, mediante certos arranjos de tenças e pensões de familia e um comércio de preferências tradicionais, foi ainda o Brasil capaz de nos ir amparando, por mais uns tempos, até à proclamação da sua República...

...Quando finalmente tudo se acabou, olhámos em roda. ...E o que restava? ...A África!

...Sobretudo de Angola e de Moçambique poderiamos fazer outros Brasis!

...E foi o que se tentou:

...Mas Moçambique revelou-se afinal mais pobre do que pensávamos. Só, muito depois, as chamadas “companhias magestáticas”, normalmente “concedidas” a ingleses, com a sua agricultura extensiva, do chá ou do algodão, para a qual nós portugueses não estávamos de todo vocacionados, se provou virem a ser realmente produtivas.

A maior distância à Metrópole também não ajudava. ...Até aos ultimos tempos da nossa colonização, a principal exportação de Moçambique era a da castanha de cajú, espontânea, apanhada no solo pelos garotos das sanzalas e vendida a baixo preço aos comerciantes indianos, que a expediam para o estrangeiro.

...Mas e Angola? ...Essa comprovou-se ser fabulosamente rica! Angola!

...E foi este, quer se goste ou não da ideia, o nosso verdadeiro percurso económico.

O Milagre Português, além da expansão religiosa e civilizacional, que nunca nos poderá ser negada, foi sobretudo o de sempre ter conseguido amparar a sua economia nos sucessivos Ultramares descortinados!

...Mesmo a passagem pelos 60 anos dos Filipes (Em que Portugal nunca perdeu oficialmente a sua independência, pois que o II de Espanha se chamou I entre nós. ...E assim até ao fim da dinastia), não havia chegado a interromper a mecânica deste processo.

...Sem as colónias teria sido altamente improvável, senão por completo utópica, a perduração, por tantos séculos, de um Portugal independente.

...Mas a partir da segunda Grande Guerra (Sobretudo desde 1942) foi quase exclusivamente Angola que sustentou a nossa economia: Começámos pelo Sisal, vendido aos USA para a rama-explosiva dos canhões navais, depois o Café, com seu tremendo desenvolvimento, a seguir as Madeiras, a farinha de Peixe, o Algodão, o Ferro para o Japão, os Mármores para Itália, ...uma diversidade de Minérios ...para toda a parte. ...etc., etc. ...E ainda o Ouro págo pela África do Sul à Diamang.

...Porém foram sobretudo o Petróleo e os Diamantes que pagaram as 3 Guerras Coloniais, além da “expressiva remessa de Moeda Forte” que, enviada para Portugal até 1975, parece ainda ter durado pelos anos 80, ...já com as colónias desde há muito independentes.

A “Receita em Divisas” de Angola, nos anos 70, terá tavez sido décupla da que a Metrópole conseguia por si própria, mesmo incluindo os vinhos, em barril e tanque, e os tecidos de algodão, que afinal tambem para Angola, e para as outras colónias, eram exportados.

“Divisas” essas imediatamente expedidas para Lisboa, ...enquanto se pagava aos locais ( europeus ou africanos ) em “angolares”, ...e mais tarde em “escudos-angolanos”, ambos inconvertíveis.

...E assim ...foi Portugal considerado o Milagre Económico Europeu de 1973!

 

                                       A DIFICIL OPÇÃO

                                                     -  I I -

Estamos em Março de 2006 e acabámos de eleger um novo Presidente da República.

Há um ano atrás tinhamos feito a escolha de um Governo Socialista, que até agora tem desempenhado com razoável eficácia o seu “possivel” exercício.

Assim do ponto de vista propriamente “Politico”, Presidente e Primeiro Ministro, ambos são “democratas”.

Quanto à sua feição “Politico-Económica”, teremos que o Presidente será “Liberal”, enquanto que o 1º Ministro é “Socialista”. ...Perdoe-se-me se estou enganado!

Poderemos ter assim chegado a uma “fórmula de óptimo equilíbrio”. ...E é no “superior entendimento” entre os dois, que depositamos toda a nossa “esperança”, pois que a crise, em que acabámos por cair no inicio do milénio, apesar da imensa ajuda da U.E., parece ter atingido agora profundidades abissais e, na perspectiva de abrandamento do feed-back europeu, só com muito esforço e imaginação conseguiremos alguma vez sair do fundo do poço.

Perdemos as ultimas Posições Ultramarinas há 30 anos, e só agora se começa a compreender que Portugal não era “viável” sem elas!                                                                                                                   Sabemos que foi “o Mundo” que nos obrigou a  abandoná-las.     ...Mas poderiamos de lá ter saido de melhor maneira!

...Ou até mesmo lá ter, em grande parte, permanecido. O mal não foram as Independências, ( ...Que teriam que acontecer.) ...O mal foi o abandono! (…Que não podia ter acontecido!)

...E todo o Angolano esclarecido nos acusa agora exactamente disso. ...De qualquer modo também sabemos que, na época presente, era impossivel continuar, ao nosso antigo “jeito”, ...pois que só as super-potências podem ter, ou fazer, colónias, e isso em moldes completamente diferentes.

...Mas então há que procurar outras soluções, ...pois parece que a União Europeia, indispensável para salvaguarda da Europa, e até para que os europeus voltem a ter as suas tradicionais força e dignidade, não será afinal “panaceia para todos os males”. Parece-nos por isso que não irá resolver, em especificidade e pormenor, os problemas íntimos e as carências endógenas de países  pobres e pequenos como Portugal.

Assim, perante o dramático panorama, de desemprego, pobreza, inflação e até (Talvez e paradoxalmente) deflação, com que presentemente nos debatemos, sabendo que será extremamente difícil instalar novas Industrias, com técnicas penosas de aprender, ou uma nova Agricultura, moderna e sofisticada, ...financeiramente incomportável, ...ou ainda Serviços de Luxo ( Turísticos, de Saúde, ou outros ), que poderão ajudar, mas que não resolverão o nosso “Mal”, ...quase começamos a sentir-mo-nos outra vez perante A DIFICIL OPÇÃO de seis séculos atrás: ...ESPANHA ? ...OU ÁFRICA ?...

...Contudo, de Espanha, embora não viéssemos a sofrer qualquer perda de nacionalismo ou patriotismo com uma “Confederação”,

...continuamos a dizer ...“que nem Bom Vento”…

Não sabemos se há lógica nisso. ...Afinal praticamente todos os Estados Europeus são Uniões de pequenas (e até geralmente menos pobres) Nações como a nossa: O Reino Unido, a Itália, a Alemanha, a Holanda, a Bélgica, a própria Espanha, ...todos são “Uniões.” ...E até na América, ...o Brasil é uma Federação, ...e os Estados Unidos ...são “Unidos”.

...Mas NÓS não queremos! ...Talvez em parte, e de há longa data, por uma certa influência estrangeira, “nós”, que até possivelmente conseguiríamos resolver os nossos problemas com uma Solução Confederada, ...“Nós”, nem pensar! Preferimos o Orgulhoso Sacrificio do SÓS.

...E Assim Seja!

...Mas então resta a outra Alternativa: Outra vez o ULTRA-MAR, ...outra vez a ÁFRICA!

...E, na melhor das hipóteses, outra vez ANGOLA!.

...Claro que não pensamos em colonizar Angola, ...agora um Estado de Direito ...e muito maior e mais rico que o nosso. No que pensamos é numa Cooperação Ampliada, Cultural e Económica, que, se feita nos moldes convenientes, os Angolanos aceitarão e que seria, para todos, da maior conveniência.

Como o desenvolvimento cultural e até industrial e agricola de Angola ainda será, por muitos anos, processado em lingua portuguesa, é evidente que haverá sempre a maior necessidade de professores, engenheiros e outros técnicos; ...Médicos, ...veterinários, ...agrónomos, ...etc., ...etc.

...Serão precisos também manuais didácticos em português, literatura cultural e ligeira, ...toda uma diversidade de material tipográfico, ...e até cartográfico

...E muito, muito mais!...

...Em contrapartida poderiamos nós tomar posições preferenciais relativas a muitas das produções de Angola, que colocariamos por toda a União Europeia, ou poderiamos reexportar, em muitos casos com “draubaque”, para quaisquer outros mercados.

...Porque não voltar a desenvolver a nossa Medicina Tropical, que chegou a ter vulto de relevo internacional nos anos 50 e 60? ...Porquê não construir um Hospital Universitário Português em Luanda ? ...E um Instituto Superior de Agricultura Tropical? Para Angolanos e Portugueses, claro.

...Isso sim, seria real e genuina Cooperação.

Porque não propor a Angola um “Regime de Concessões Agricolas” ( De 30 ou 40 anos, por exemplo), que empregariam milhares de Angolanos, e que findos esses anos, lhes seriam entregues em definitivo.

A 120 Kms de Luanda, a partir do Úcua, começa uma região de floresta e café, a das antigas plantações dos Dembos, com cerca de 2.500 Kms 2, que constituem um “mundo maravilhoso”, ...praticamente abandonado! ...Lá trabalhámos por mais de 20 anos, até 1975.

Em Julho e Agosto do ano passado percorremos grande parte da área, e verificámos que, das 40 a 50 fazendas que ali laboraram, pelo menos metade ainda está perfeitamente recuperável.

Para se começar, julgamos este um estupendo projecto para os nossos estudantes de agricultura e silvicultura! ( ...E até talvez as Organizações Internacionais nos ajudassem.)

Simplesmente tudo isto teria que ser negociado com um máximo de inteligência, honestidade e respeito, de parte a parte.

...E o Processo levado ao ponto de Grandes Empresas Nacionais dos dois Paises.

...Há concerteza um “aspecto” de que podemos estar completamente seguros:

Os Angolanos gostam de Nós, ...preferem-nos a Nós. ….E Nós continuamos a gostar ( E a compreendê-los como mais ninguém ) …dos Angolanos.

...Mas tal “aspecto” tem que passar do “abstracto”, ...tem que ser “concretizado”!

...E para terminar, tudo o que espero é que este apontamento chame a atenção de alguém com mais capacidade, menos idade, e em melhor posição do que eu, para estudar e, se lhe encontrar algum mérito, desenvolver e activar um tal Projecto.

Março de 2006 J. Sá-Carneiro ( * )

( * ) José Antonio de Sá Carneiro

Natural de Lisboa – 1927 ( Nacionalidades Portuguesa e Angolana )

Despachante-oficial da Alfândega de Luanda de 1952 a 1975

E das Alfândegas Portuguesas desde 1980

Diplomado em Services Marketing Management pelo SAMA de JHB

Licenciado em História pela Universidade Aberta de Lisboa

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